quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Roubaram a Igreja de Meu Pai!!

Olá amigos!

                         Quinta feira, 19:00hs. Início da década de 90. É rotina. Toda nossa família já sabia. Era o  dia da semana de se deslocar até o bairro vizinho - cerca de três quilômetros - para juntamente com outras vinte pessoas aproximadamente, celebrarmos um culto na residência de um deles. Era dia de alegria, apesar dos seis quilômetros - ida e volta - que a gente fazia à pé. Durante o culto nós, as crianças, juntamente com os adultos, cantávamos alguns hinos e depois de  vários testemunhos de fé, ouvíamos uma mensagem bíblica, geralmente atrelada ao cotidiano daquelas pessoas simples que se reuniam naquele casebre de madeira.                         
                           A alegria que me refiro era motivada pela certeza que  tinham de que em algum momento de suas vidas estavam como que perdidas, ou seja, sem esperança, e por não conseguirem vislumbrar uma saída, viviam segundo o que eles achavam que era certo, ou seja, tentando substituir a falta de prazer na vida, naquilo que julgavam ser melhor. Viciados em bebida, cigarro, etc. e, por conta dessa entrega aos vícios, contabilizavam inúmeros problemas pessoais e familiares. Porém ao conhecerem a Cristo, digo, conhecer através dos testemunhos pessoais daqueles irmãos, que sendo seus vizinhos, e por isso mesmo viverem na mesma situação que eles, conseguiam visualizar nestes uma alegria de viver, algo que transcendia o material e lhes davam uma paz de espírito. Sendo assim, a comunidade crescia em número obrigando aqueles simples irmãos a alugarem um salão maior para continuar realizando as reuniões.
                              Interessante a lembrança da maneira simples como se vestiam. Meu pai, que dirigia os cultos, estava sempre com seu blazer azul, aliás, o único que possuía, e que nunca estava de conformidade com a calça, que era de outra cor. Mas isso não o impedia de chorar de alegria durante os cultos, e de se alegrar sempre que chegava mais alguém para fazer parte da comunidade. Eram  pessoas da redondeza, que outrora vivam a mercê da sorte, e de seus vícios, e agora eram agraciados com a certeza do amor do Pai, derramado no coração daqueles irmãos.
                              Lembro-me do conceito que tinham do sofrimento humano. Compreendiam que mesmo sofrendo, ou seja, ainda que não tivessem acesso aos mesmos bens e serviços dos mais abastados, permaneciam juntos, desfrutando do prazer da comunhão.
                               Os cânticos que entoavam falavam sempre de um amor incondicional do pai. Sim, que o Senhor tinha uma identificação especial com os pobres, pois  esses  tinham mais facilidade pra entender o verdadeiro significado da comunhão. E que, esse amor apesar do tempo que o ser humano possa passar distante, não é suficiente para diminuí-lo. Pelo contrário, o pai espera pacientemente a volta do filho, e quando ele volta, não lhe pede relatório de onde andou, e porque saiu. Ele simplesmente abraça o filho, o coloca em seus braços, e faz dele, participante de suas bênçãos. Falavam também do Senhor como o pastor das ovelhas, que perdendo uma delas, tranca todas as outras no seu aprisco e vai atrás da perdida.
                              Após a reunião, a certeza de caminhar mais três quilômetros não era capaz de impedir que eles ainda se reunissem à porta do salão e conversassem assuntos simples do cotidiano, e no coração, carregavam a certeza de que o Senhor os amparava, nas horas de angústia e aflição.
                               Com base neste consistente pilar - evangelho de Cristo - foram edificadas todas as instituições religiosas do nosso tempo, tanto na zona leste, onde nosso pai participou ativamente, como nas outras regiões da cidade.
                                Passaram-se mais de duas décadas e meia. Nosso pai, e os ministros do seu tempo continuam na batalha, embora, as vezes impedidos pelo cansaço, a acreditar que existe algo num plano superior, que os encoraja a lutar pela sua fé.
                                 Eles continuam não acreditando que por causa do seu serviço ao Mestre, Ele tenha que lhes dar por milagre, conforto aqui nesta vida. Não concebem a idéia de que o ser humano consiga ser fiel a Deus a ponto de, em troca receber D'Ele  algo material.
                                 Os dízimos davam com alegria, e as ofertas por gratidão. Gratidão, não porque tinham recebido bençãos materiais, mas pela paz que tinham no coração, por fazerem o bem, ajudando as pessoas viciadas e perdidas a tomarem um rumo na vida.
                                  Não tenho saudade do terno azul, nem do violãozinho velho, nem do casebre, que gentilmente um dos irmãos cedia para realização dos cultos. Tenho saudade dos assuntos que eram tratados, das mensagens que eram proferidas, dos choros de alegria que ouvíamos, do abraço fraternal que davam na chegada e na saída, da certeza de que mesmo angustiado, o consolo nas mensagens do evangelho era como que certo.
                                     Eu, assim como meu pai, ainda choro com as musicas "cem ovelhas", "oh foi por mim", "entrei no templo", "divino companheiro", etc., e ainda me emociono, quando  na semana passada ouvi de um amigo: "você é um irmão pra mim", e como ele, carrego uma certeza. Roubaram nossa igreja e nosso discurso, mas não conseguem apagá-los dos nossos corações.

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