domingo, 8 de julho de 2012

O PROBLEMA DA CULPA!


Outro dia,  por ocasião  do término  de uma  disciplina  optativa  (Educação de Jovens e Adultos), Amanda Carolina e eu fomos orgulhosamente mostrar nosso texto ao nosso Manoel Motta, que nos tinha proposto apresentá-lo num seminário, a fim de verificar como tínhamos apreendido o conteúdo que nos fora apresentado ao longo daquelas semanas.
Nosso  texto tentava trazer  uma  análise de como o pensamento  de  Paulo Freire pode contribuir para a compreensão do analfabetismo no Brasil ao longo de sua história. Pois bem. Ao ler nosso texto rapidamente, concluiu: 
-Ficou ótimo, muito bom, muito bom. Só não gostei dessa palavra aqui:
-Qual palavra? - perguntamos.
-Esta aqui - CULPA. Não gosto desta palavra! 
Não tivemos mais tempo pra conversar sobre isso. Apresentamos nosso trabalho e tiramos nota máxima. A partir daí comecei a refletir sobre a tão rejeitada palavra. CULPA!
É claro que não tenho pretensão de refletir na mesma perspectiva do nosso "velho" Motta, mas não posso negar que as minhas próprias reflexões me levaram a lugares interessantes.
Ontem ouvi pelo rádio uma preleção sobre Família. O palestrante discursava a respeito da importância de se valorizar os filhos, a esposa, o marido, etc. Dava exemplos de como ele próprio havia aprendido a valorizar a esposa, e o quanto isso o fazia feliz. Lembrou seus ouvintes que as tarefas do lar devem também ser compartilhadas pelo esposo. Fez citações bíblicas, reafirmando conceitos de amor e dedicação, principalmente da parte do marido, pois, segundo ele, é sempre o lado mais rude.
Recordou o tempo em que a família se sentavam em volta da mesa, e que o jantar era só uma desculpa, pois o que tinham de fato, era um momento para conversar, compartilhar emoções, desejos, e, por que não, de vez em quando uma discussão, que apesar de tornar o ambiente por vezes hostil, nunca superava a alegria por estarem juntos. Enfim, com sua análise dessas, não é difícil concluir: a família passa realmente por uma difícil situação.
Porém,  penso que seria redundante finalizarmos nossa reflexão, apenas com a constatação do nosso eufórico palestrante. É preciso ir além. Se não for assim, a CULPA da construção desse cenário desolador recai sobre os próprios membros da família. Afinal são eles que decidiram não conversar mais, e a também não dedicar um pouco mais de tempo para estarem juntos. Será que é isso mesmo?
 Partindo  de uma  perspectiva da  busca da  essência das  coisas,  não  podemos   deixar de acrescentar a essa reflexão do nosso comunicador, o fato de que as engrenagens que fazem funcionar o sistema pelo qual a nossa sociedade está fundamentada, carrega e sustenta valores que não são exatamente o que a família precisa para se sustentar como família, de fato. Os indivíduos são induzidos, salvo algumas exceções, a valorizar o consumo, o ter, o possuir, enfim, o individualismo. Logo, a família, enquanto lugar de compartilhar, dividir, sentir e integrar, fica sempre em segundo, terceiro plano.
Penso que somente com a desvelação dessa realidade, ou seja, a compreensão de que estamos inseridos num contexto, meticulosamente articulado para apenas reafirmar aquilo que o próprio sistema precisa para se manter, é que vislumbramos uma luz no fim do túnel. Ninguém vai, como num passe de mágica, ou por um milagre, como queiram, mudar de direção. Olhar o outro implica reconhecimento. Requer análise. Auto-análise. 
Meu  caro  Motta, não  há mesmo um CULPADO. O que existe é uma lenta, quase imperceptível construção, na qual os indivíduos são inseridos e tendem em uma análise acrítica, conceberem tudo como natural, e quando algo dá errado - e sempre dá - elegerem de pronto, um CULPADO
É preciso afiar o bico e romper passagem, pois a portinha da gaiola jamais se abrirá sozinha!


Um comentário:

  1. Então de quem é a CULPA? será que isso nos da a partir das reflexões próprias que eu também tenho CULPA ou que alguém é CULPADO? será que é imperceptível ou natural? Acho que ainda tem um CULPADO nessa história.Então vamos a AUTO-ANALISE! Ah, que graça vai ter agora se eu descobrir que EU tive alguma CULPA!Essa alienação que me deixa assim...lente e acritica.

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