Outro
dia, por ocasião do término de uma disciplina
optativa (Educação de Jovens e Adultos), Amanda
Carolina e eu fomos orgulhosamente mostrar nosso texto ao nosso
Manoel Motta, que nos tinha proposto apresentá-lo num seminário, a
fim de verificar como tínhamos apreendido o conteúdo que nos fora
apresentado ao longo daquelas semanas.
Nosso
texto tentava trazer uma análise de como o
pensamento de Paulo Freire pode contribuir para a
compreensão do analfabetismo no Brasil ao longo de sua
história. Pois bem. Ao ler nosso texto rapidamente, concluiu:
-Ficou
ótimo, muito bom, muito bom. Só não gostei dessa palavra aqui:
-Qual
palavra? - perguntamos.
-Esta
aqui - CULPA. Não gosto desta palavra!
Não
tivemos mais tempo pra conversar sobre isso. Apresentamos nosso
trabalho e tiramos nota máxima. A partir daí comecei a
refletir sobre a tão rejeitada palavra. CULPA!
É
claro que não tenho pretensão de refletir na mesma perspectiva do
nosso "velho" Motta, mas não posso negar que as minhas
próprias reflexões me levaram a lugares interessantes.
Ontem
ouvi pelo rádio uma preleção sobre Família. O palestrante
discursava a respeito da importância de se valorizar os filhos, a esposa, o marido, etc. Dava exemplos de como ele próprio havia aprendido a valorizar a esposa, e o quanto
isso o fazia feliz. Lembrou seus ouvintes que as tarefas do lar
devem também ser compartilhadas pelo esposo. Fez citações bíblicas, reafirmando conceitos de amor e dedicação, principalmente da parte
do marido, pois, segundo ele, é sempre o lado mais rude.
Recordou
o tempo em que a família se sentavam em volta da mesa, e que o
jantar era só uma desculpa, pois o que tinham de fato, era um momento para conversar, compartilhar emoções, desejos, e, por que
não, de vez em quando uma discussão, que apesar de tornar o ambiente
por vezes hostil, nunca superava a alegria por estarem juntos.
Enfim, com sua análise dessas, não é difícil concluir: a
família passa realmente por uma difícil situação.
Porém,
penso que seria redundante finalizarmos nossa reflexão, apenas
com a constatação do nosso eufórico palestrante. É preciso ir
além. Se não for assim, a CULPA da
construção desse cenário desolador recai sobre os próprios
membros da família. Afinal são eles que decidiram não conversar
mais, e a também não dedicar um pouco mais de tempo para estarem juntos. Será
que é isso mesmo?
Partindo
de uma perspectiva da busca da essência das
coisas, não podemos deixar de acrescentar a
essa reflexão do nosso comunicador, o fato de que as engrenagens que
fazem funcionar o sistema pelo qual a nossa sociedade está
fundamentada, carrega e sustenta valores que não são exatamente o
que a família precisa para se sustentar como família, de fato. Os
indivíduos são induzidos, salvo algumas exceções, a valorizar o
consumo, o ter, o possuir, enfim, o individualismo. Logo, a família,
enquanto lugar de compartilhar, dividir, sentir e integrar, fica
sempre em segundo, terceiro plano.
Penso
que somente com a desvelação
dessa realidade, ou seja, a compreensão de que estamos inseridos num
contexto, meticulosamente articulado para apenas reafirmar aquilo que o
próprio sistema precisa para se manter, é que vislumbramos uma luz
no fim do túnel. Ninguém vai, como num passe de mágica, ou por um
milagre, como queiram, mudar de direção. Olhar o outro implica
reconhecimento. Requer análise. Auto-análise.
Meu
caro Motta, não há mesmo um CULPADO. O que existe
é uma lenta, quase imperceptível construção, na qual os
indivíduos são inseridos e tendem em uma análise acrítica, conceberem tudo como natural, e quando algo dá errado - e sempre dá - elegerem de pronto, um CULPADO.
É
preciso afiar o bico e romper passagem, pois a portinha da gaiola
jamais se abrirá sozinha!
Então de quem é a CULPA? será que isso nos da a partir das reflexões próprias que eu também tenho CULPA ou que alguém é CULPADO? será que é imperceptível ou natural? Acho que ainda tem um CULPADO nessa história.Então vamos a AUTO-ANALISE! Ah, que graça vai ter agora se eu descobrir que EU tive alguma CULPA!Essa alienação que me deixa assim...lente e acritica.
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