quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Um ano de atraso

Não dá para continuar de onde parei. Entrei aqui e descobri que estou a um ano sem escrever. Parece que o atropelo da vida tomou conta. Quantas vezes quis contar aqui o que me aconteceu. E aconteceram tantas coisas. Já passou um ano, mas eu lembro de cada uma delas. Não vou contar tudo, porque prometi, desde os primeiros textos, fazer um esforço para não ser cansativo. 

Mas não posso deixar de contar da minha aluna Ester. Eu já não sabia o que fazer com a indisciplina dela. Eu tentava de tudo, pensava, e nada mudava aquela menina. Um dia, depois da aula, fui até sua casa.. “oiii, sou o professor da sua filha...” a mãe me mandou entrar, a menina arregalou os olhos - O  professor veio fazer queixas, deve ter pensado... entrei, tomei café. Ao contrário do que minha assustada aluna pensou, não falei nada de negativo, tirei uns livros da mochila e dei a ela, com a recomendação de me devolver, assim que terminasse de ler. Fui embora sem saber o que aconteceria. Não sei qual foi o milagre, posso dizer apenas que nunca mais tive problemas com a Ester.

Não dá pra esquecer outro episódio que marcou a gente. Tínhamos um problema de uma mentira, que alguém da sala contou e prejudicou uma pessoa. Não sei o que me deu, chamei todos para uma oração, e, no final da aula, a verdade apareceu. Deve ter sido outro milagre. Vai saber...

Nunca mais deixo passar um ano sem escrever. Acumula, agora fica difícil para escolher o que contar. Mas não posso deixar de falar da sala de informática. Lembram-se das olimpíadas? Daquela judoca da medalha de ouro? Foi uma das coisas mais importantes que discutimos. Acho que foi uma das melhores aulas que já dei na vida.

As crianças sabem das coisas e, se for interessante, param para ouvir a gente. E as leituras em capítulos? O livro tinha muitas páginas, mas conseguimos ler praticamente tudo em alguns dias. 

Ah, tem o episódio de um menino que tivemos um problema. Puxa, como fiquei triste vendo-o naquela situação de embate comigo. Eu não sabia o que fazer, ele me enfrentava, gritava, esperneava. Nunca mais tive problemas como aquele, pois recebi, deste episódio, preciosas lições. Quero reencontra-lo um dia desses. Darei um abraço e agradecerei pelo aprendizado.

E o Ederson? Que saudade desse moleque! Sabe quando a sala fica quieta? Pois é, nessas horas ele batia na mesa e começava cantar um daqueles funk’s. As vezes eu ficava irritado, mas na maioria, achava graça. Um dia ele falou que queria ser como eu, fiquei daquele jeito, podem imaginar não é?

E a Ana Vivian? Pensa numa menina brava! Demoramos para nos entender. Depois disso, nossa relação ficou uma delícia. Uma das mais carinhosas comigo! Lembro sempre com carinho.

Estou falando, como perceberam, do ano passado, da minha turma de terceiro ano. Foi um ano difícil, eu não tinha certeza de quase nada. Inseguro em quase tudo. Mas não posso negar, jamais aprendi tanto. Existe, concretamente, um saber que só a prática é capaz de dar. Meus pequenos me ensinaram tanto, tanto... 

Errei, acertei, corrigi, apaguei, consertei muitas vezes. Pensei em sair correndo muitas vezes. Desacreditei muitas vezes. Levantei a cabeça muitas vezes também. Um dia, estava tão difícil as coisas que quase fui embora. Era meu aniversário e a sala estava daquele jeito. De repente, começaram a cantar para mim: “você é especial, quem te deu a vida destruiu a forma não fez outro igual...” pronto, desatei o nó, abraçamos, choramos, e seguimos em frente.

No final daquele ano (2016), recebi uma visita na escola. Eram os pais da Ana Vivian. Me procuraram e me disseram: “professor, viemos lhe agradecer. Nossa filha está lendo...” Nunca esqueci disso, vou levar para vida inteira.

Agora tenho outras Ana Vivian’s, percebo que aprendendo com eles, torno-me, cada dia, um professor melhor. Aprendi que para dar certo com eles, a relação tem de ser verdadeira, sem máscaras, nem mentiras. Eles não respeitam quem não se preocupa com eles. Não reconhecem como referência quem não os coloca em primeiro lugar. 

Neste ano de 2017 trabalhei com duas turmas de segundo ano. Eles, com certeza, conheceram um Jairo melhor, um professor um pouco mais experimentado, talvez por este motivo, tenhamos construído uma relação ainda mais verdadeira, e, exatamente por isso, rendeu muito mais histórias... mas isso é assunto para o próximo texto...!



4 comentários:

  1. Que delícia ler esse texto! Aguardo ansiosamente os próximos.

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    1. Não é muito fácil vencer a procrastinação...! Mas vou fazer o possivel para reativar de vez isso daqui !! Obrigado!!!

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  2. O que posso dizer que algumas eu me emocionei outras me recordou a minha infância .
    Sinceramente podemos afirmar que está no seu DNA ser professor. Parabéns!!! Aguardando as próximas...

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